quarta-feira, 29 de setembro de 2010

A musica teve fim, 5:45.

.. Eu estava sentada em uma cafeteria Londrina. O tempo estava frio, estava nevando. Havia nevado pela manhã, mas agora, 4:02 da tarde só estava nublado. Não demorou muito e a garçonete me trouxe uma xícara das grandes de chocolate quente que havia pedido. Olhando pelo vidro da frente, só enxergava pessoas, muito bem agasalhadas com seus casacos até o chão, indo e vindo olhando as decorações de natal. Sim devia ser época de natal, tudo tão iluminado, enfeites pra todo lado. Uma golada de leite quente, 4:09. Olhei a minha volta, havia um casal mais velho sentados tomando seus cafés, ele lia o jornal do dia ela o olhava com tanta atenção, como se ele fosse um quadro que merecesse horas de admiração. Havia também uma mulher, parecia ser escritora, havia pilhas de papeis sobre a mesa e ela não havia tirado os olhos do papel que escrevia desde que cheguei. Mais um gole de leite, 4:17. Olhei pra caneca, o leite estava pela metade e nada. No vidro da cafeteria havia uma menininha, parecia que procurava por alguém. Olhou em todos os cantos que podia, sorrio pra mim e saiu correndo. Apoiei o queixo na minha mão direita e esperei.Eis que nessa hora surgiu a mais linda das pessoas de todo o mundo, olhou do vidro diretamente pra mim deu um sorriso e entrou. Senti uma reviravolta no estômago. Borboletas.
- Oi, desculpa eu me atrasei. - sentou exausto e ofegante na cadeira, olhou diretamente pra mim, que a essa altura não tinha contido o sorriso. Puxou o ar pra dentro.
- Ah esqueci uma coisa.- Levantou-se, deu três passo em minha direção, abaixou-se. Colocou a mão quente em meu rosto, me deu um carinhoso beijo na bochecha e outro nos lábios e voltou ao seu lugar. - Você está tão gelada, já pediu seu leite quente?
- sim, ja sim, mas ainda tá muito frio.
Ele chamou a garçonete. Enquanto ele fazia o pedido, não pude deixar de olhá-lo.Como ele era perfeito, até nas imperfeições era perfeito, com aquele cabelo meio enroladinho, meio claro, meio escuro, aqueles olhos pequenos, sua boca, o jeito de falar, como tinha certeza do que falar. Ele se virou pra mim, olhou diretamente nos meus olhos como sempre fazia estendeu a mão sobre a mesa pedindo pra eu fazer o mesmo. Eu o fiz. Sua mão estava tão quente, que eu me perguntei como ele conseguia com todo esse frio ai fora.
- Desculpa por ter chegado atrasado, eu sei que nosso café é sagrado, mas tenho noticias boas. Acho que fechamos contrato com o jornal, está quase tudo certo, amanhã tenho que passar lá pra resolver os detalhes.
- Que maravilha, fico tão orgulhosa de você - eu, com o sorriso mais bobo do mundo.
O café dele chegou. Uma xícara grande de café, 1/4 de leite e bolachinhas. Ele sempre pedia bolachinhas. Tomou seu café preguiçosamente rápido e eu o meu leite que a essa altura ja havia esfriado um pouco, terminamos com as bolachas e ele foi pagar a conta. Peguei minha boina roxa que combinada com meu cachecol e meu casaco preto pendurados no cabideiro. Esperei, tomei fôlego pra sair pra rua gelada e fui. Alguns segundos depois ele saiu com seu casaco preto pesado e com o cachecol verde musgo da sorte que eu mesma fiz. Uma leve brisa fria soprou, balançando meus cabelos e eu estremeci. Ele veio correndo, quase escorregando no gelo da calçada, me arrancando um leve sorriso do rosto e me deu um abraço. Um abraço que me estremeceu mais ainda. Mas esquentou por fim e ficamos assim por alguns minutos. Ele me deu a mão e saímos andando pela calçada, 4:58. Pela caminhada, nada foi dito, somente olhávamos as decorações, as luzes, na parada do cruzamento ele me abraçou pela cintura, me deu um beijo na testa e assim prosseguimos. Ele começou a falar, comentava das pessoas, dos enfeites, de tudo, e eu sempre ria, porque sempre me faltavam palavras pra corresponder os comentários tão bem formulados. Ele sempre tão culto com seus comentários, eu me sentia cada dia mais admirada por aquele ser tão perfeito ao meu lado. Passando em frente um Pub, um dos mais cheios e famosos em Londres, ouvimos uma musica vinda de flautas, trompetes, saxofones, um piano. Uma musica familiar e animada, não sabia cantar, mas ele e o cantor sabiam de cor. Pegou minhas mão com a intenção de dançar, não queria, estávamos no meio da calçada com varias pessoas passando e vendo. Mas ele não se importou com minha recusa, assim dando pequenos e cuidadosos passos. Quase num sussurro ele começou a cantar a musica em meu ouvido. Como eu o amava, ainda mais quando cantava ao meu ouvido. Agora estávamos mesmo dançando, com passos direitos quase escorregando pelo gelo. Nada foi dito pelos 5 minutos que a musica durou a não ser ele e o cantor lá dentro. A musica teve fim, 5:45 . Ele em soltou, eu quase escorreguei mas ele me pegou a tempo. Olhou fundo nos meus olhos como se tivesse vontade de entrar dentro deles.
- Você não consegue acreditar o quanto é importante e essencial pra mim. - Me puxou pra mais perto, em deu um beijo com direito a ser demorado ... e me abraçou ...

Acordei com gosto de café com leite na boca
e nem tive tempo de dizer: - Eu gosto tanto de você ...